sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

XI - Quase dois meses

Sem cigarros. Na sacada - à noite. Matielo e Karina. O garoto da frente com violão. Guns N' Roses. Ele apaga as luzes. Ele acende as luzes. Natureza luxuriosa masculina. Incenso. Sobre espíritos. Sobre chackras sobre-ativos. E baratas mortas com perfume. Sobre minha voz de Sandy - A Lenda. Fotos e cobertor. Brumas de Avalon. Meu pai saindo para trabalhar. 5 da manhã. E cigarros na padaria.

X - Cachimbo da paz

Na virada da década, eu estava na casa da Solange em Itatiba, interior de São Paulo. Eu, família e Karina. Com champagne sem álcool, um quarentão de olho nos meus seios, sensação de claustrofobia pela presença de certo alguém, e vontade de rezar. É, de rezar.

Daí que nem todo mundo tem pulmões de ferro. Uma dica: Se você tem asma e fuma um bolinho gordo de maconha, você provavelmente irá parar no Hospital regional, tomar injeções e fazer inalação por duas horas. Sem contar a cena antes do hospital, que poderá incluir um semi-desmaio no banheiro da casa de desconhecidos.

O dia primeiro de janeiro foi no mínimo... Bizarro. Estávamos sentadas a esperar a inalação terminar, quando um dos enfermeiros veio verificar o tempo que faltava. O enfermeiro, que passava por ali a todo o momento em que resolvíamos comentar o ocorrido, simplesmente disse: Deixe-me ver se acabou o cachimbo da paz. Cachimbo da paz - Você deve saber o que significa. Cachimbo da paz... Será que ele era adepto de Maria? Ou apenas escutou o que dizíamos? Que vergonha.

Para completar o conturbado dia, o divorciado que nos levou e buscou, atacou a Sheila no caminho. Detalhe: Era primo dela, e tinha no mínimo 20 anos a mais. Algo de alguém que eu nunca esperaria. Nunca mesmo.


IX - Sobre o último dia de ano

Sabe-se que o tédio é o pai do erro. Partindo desse princípio, me afoguei em estudos. Mas é difícil evitar más coisas quando se é junkie naturalmente. Eu fujo, corro, passo meses longe de todo esse mundo sujo, para me encontrar novamente na mesma contradição, para me fazer as perguntas de sempre, sobre o que é certo ou errado, se há algum problema, se uma vez mata. Então me perco. O tempo que passei a me esconder limita minha memória a sensação da abstinência e da saudade. E os poréns que me impeliram da última vez, ficam guardados para depois, quando as mesmas conclusões chegarem através da tosse. Mesmo que não seja minha.

Maria. No último dia do ano, eu lia um daqueles livros que comprei há anos e nunca toquei. Lia a sentir um incômodo no peito, nos pés - me mexia. O telefone e a internet fora de linha, e você sabe de quem o tédio é pai. 5 reais de crédito no celular. Será que consigo? Eu tinha plena consciência dos planos para aquela noite de 30 de dezembro: Ouvi comentários envolvendo Maria. Fazia tanto tempo. Será que consigo? Liguei. 8 números, respiração vacilante.

"Alo?" disse uma voz conhecida. Sorri.

VIII - Espírito Evoluído

"Você é um espírito evoluído, deve dar o exemplo." Foi o que disse meu padrinho em uma conversa ao café da manhã. O menor e mais eficiente sermão que recebi.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

VII - Dezembro

02 - E aí que eu me surpreendi novamente com a cara-de-pau masculina. Mas foi bom, estreamos o isqueiro dourado de fogo invisível do Acerola com um Lucky Strike, numa tarde cansativa, mas bem gostosa. Eu, Karina, Juninho e o Gustavo que apareceu com o pescoço roxo, dando fim ao meu monólogo sobre não querer namorar. Destino.
03 - As provas acabaram junto com o ano letivo, e eu tive que me despedir da galera do terceiro ano. Vou sentir falta disso, os melhores momentos desse ano tem o nome deles creditado. Corri muito para tentar alcançar a Letícia, mas não consegui me despedir dela. Depois da aula, minha sala gay fez uma mini-festa/amigo secreto e comemos esfihas na praça. O discurso do Wilson sobre união fez com que eu me sentisse parte do EM3.
Algumas pessoas foram embora, outras ficaram no Campolim para encher a cara de vodka e pegar alguém. Esse foi o meu caso, mas não vou contar quem eu peguei. E choveu. Só o que faltava para completar a bela cena: Chuva, beijos, bêbados, gente rindo, gente correndo.
04 - Eu, Matielo e Karina + Um monte de pagodeiros gays numa chácara + Mãe grávida da Matielo + Garrafa de Jurupinga descuidada + Piscina. E perdemos Copacababa Club.
07 - Ingressos para U2 360º comprados.
10 - Terceiro Andar com meus ruivos, minhas pequenas e absinto. Enlouqueci ao som de Human. Nota: Tenho que parar de pegar meus amigos.
12 - Churrasco na casa do Fer Lima, e o Alex não nos trocou pelos caras da banda. Estava com saudade de todo mundo, e o dia foi interessante não só pelo bolo delicioso da mãe do Fer, mas também por toda a conversa e nostalgia. E o Alex me carregou nas costas até o shopping. É bom lembrar que a Jamille reforçou uma aposta que fizemos no começo do mês e eu tenho um prazo: Julho de 2011.

Nesse meio tempo eu comprei roupas de menina; tive um reencontro com os meus sentimentos pelo Léo e lidei com isso; ampliei meu fanatismo pelos Beatles reassistindo os filmes; presenciei um eclipse lunar; ri com Seth Cohen na segunda temporada de The O.C pela milésima vez.; saí com o pessoal da sala pra conversar; mudei de óculos; não peguei nenhuma pp, notas dignas até; e surgiu um boato sobre uma possível volta do Macca pro Brasil.

Amanhã eu irei viajar para a casa dos meus avós e pretendo gastar as 168 horas lá pensando em formas de Terrorismo Poético.


terça-feira, 21 de dezembro de 2010

VI - A=A

Paul McCartney sobre o melhor momento do ano de 2010:

It’s been an incredible year [...] I think Sao Paulo, 65,000 people the first show was amazing the Brazilian people love their music and so we love to play to them and it was a stand out show. It was one of our top shows ever, and it was just brilliant, the audience was bananas and we have a great evening…

a.PM - 21 de novembro de 2010 - d. PM


terça-feira, 9 de novembro de 2010

V - Sobre 9 de novembro

Vai provar a mentira ou enganar de verdad... Ou enganar a verdade... Enganar a verda... Vou manter o auto-controle que comecei... Auto-controle que come... Auto-controle... A tecer quando você... Que comecei a... Acendeu um ... Quando você... Acendeu um cigarro e eu olhei para as estrelas... Eu olhei para as... Caindo. Vou manter o auto-controle que comecei a tecer quando você acendeu um cigarro e eu olhei para as estrelas.

Um casal dormia no sofá. Ela aconchegada no abraço dele, e ele deitado sob seus cabelos, queixo no ombro, sono pesado. Desfoque. Alguém entra na sala, eles acordam, ela tem algo a fazer, ele procura um sapato, os visitantes supostamente fazendo o café da manhã. Ele tem que sair, ela tem que sair, ele diz que "esse é o tipo de coisa que acontece quando não se tem uma casa", ele a chama de namorada, ela ganha um beijo na testa, na boca, um garoto de 12 anos a espera a porta...

Eu acordo. Alguns minutos para me localizar no espaço, pouco mais de uma hora de sono. Sem pressa nenhuma ergo meu corpo da cama quente e caminho no escuro até o banheiro. Lavo o rosto. "Que sonho bonitinho", eu penso. Semi-acordada eu mascaro a insônia com maquiagem e cafeína. Quero tanto dormir de novo, não decidi o destino de 9 de novembro ainda, e agora? Mentira ou verdade? Malditos sejam os significados que atribuo a datas. Estou atrasada. Ônibus, apátia. Encontro o Alex, estamos distantes. Desvio seu olhar. Mais uma vez sem aula de literatura, penso em como essa costumava ser minha matéria favorita. Me afogo em ansiedade sem razão. Tento ler algumas páginas daquele mesmo livro... Poderia vomitar. Me controlo. Capto as risadas ao meu lado, participo da alegria. Ansiedade some por algumas horas. Karina chega, pergunta sobre 9 de novembro...

De repente, tal como se a resposta estivesse sempre ali, esperando para que eu a procurasse, eu percebo: 9 de novembro só é mentira, porque o sentimento impresso à ocasião passada se tornara nada mais do que vento. Tudo coisa de julho do ano passado. E então eu a respondo: 9 de novembro é uma mentira.

Na noite anterior, Camila disse tchau. Agradeci mil vezes a sua depressão, com palavras que fugiam de mim após semanas de cautela e eufemismo. Esperei que fosse a solução:14 horas de espera. Sem resultado. Acrescente palavras grosseiras a ausência de resultado. Da parte dela, é claro.

Quero tanto dormir de novo... Fecho os olhos. Nada de sono ou sonho. Penso sobre o que estou fazendo. Só mais algumas horas, diz o relógio - Só mais algumas horas.